MAC e MAPP promovem o cotidiano dinâmico da cultura e difundem heranças das artes paraibanas
27 abr 2015
Está na Declaração Universal dos Direitos do Homem: “Toda a pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de gozar das artes e de aproveitar-se dos progressos científicos e benefícios que deles resultam” (artigo 27). Dessa maneira, também, a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) enxerga a cultura: como um direito.
Assim, através do trabalho realizado pela Pró-Reitoria de Cultura (Procult), a Instituição imagina cada cidadão como um agente cultural e deseja ampliar o acesso da comunidade universitária, assim como de todos, aos bens culturais e aos instrumentos de sua produção. O Museu Assis Chateaubriand (MAC) e o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), como catalisadores eficientes desse plano, viabilizam diversas ações de cunho artístico e cultural e mantêm um diálogo participativo com a população, unindo conhecimentos teóricos e práticos contextualizados para a inclusão social e a construção do conhecimento.
Um das missões da UEPB é justamente incentivar as manifestações culturais e a preservação da memória artística regional. Nesse sentido, os museus da Universidade desenvolvem uma intensa programação, atraindo milhares de estudantes, pesquisadores e todos aqueles que desejam ter um momento de contemplação artística, em espaços privilegiados e preparados para atendê-los.
“Hoje, ao redor dos museus da UEPB, já se enxerga a efervescência cultural, o burburinho de estudantes, artistas, professores que lá se encontram, na ambiência empreendedora proporcionada pela Universidade, para protagonizar iniciativas conectadas à dinâmica do mundo e sua incessante energia inventiva”, explica o pró-reitor de Cultura da Instituição, professor Chico Pereira.
Para ele, os museus da UEPB vêm cumprindo o papel a eles atribuído, promovendo e apoiando várias iniciativas que se referem às artes cênicas e plásticas, literatura, eventos e exposições, memória e patrimônio, música e espetáculos de dança, dentre outras, com atividades gratuitas e direcionadas especialmente à formação de novos públicos. Chico Pereira acredita que, com estas práticas, a UEPB e seus museus reafirmam ativamente no cotidiano o compromisso de serem agentes propulsores da democratização da cultura, tendo a arte e a criatividade como vetores.
Museus para quê?
O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) aponta que “os museus são casas que guardam e apresentam sonhos, sentimentos, pensamentos e intuições que ganham corpo através de imagens, cores, sons e formas. Os museus são pontes, portas e janelas que ligam e desligam mundos, tempos, culturas e pessoas diferentes. Os museus são conceitos e práticas em metamorfose”. Para além disso, e compreendendo todo o significado que os museus possuem, a UEPB apostou no MAC e no MAPP como pilares da educação plena de um povo e da sua história. Os museus valorizam, ainda, o trabalho dos artistas e suas obras, em estruturas que são verdadeiros presentes arquitetônicos, onde memória e escola se encontram.
O artista plástico campinense Alex Melo fez a sua primeira exposição no MAC, em 2013. Intitulada “1/3 de cor”, a exposição reuniu trabalhos também de dois outros artistas locais: Flaw Mendes e Fábio de Brito. Para Alex, estar no MAC foi a melhor vitrine, o elemento que verdadeiramente impulsionou sua carreira artística. “Durante e depois a exposição, eu, que trabalho com artes plásticas desde criança, vi meu ofício reconhecido e muitas oportunidades surgindo”, conta.
À época, o artista vendeu dois de seus quadros a turistas americanos que visitavam Campina Grande e foram conferir “1/3 de cor”. Assim, uma de suas obras, hoje, está no castelo da região histórica e turística da Capadócia, na Turquia. Alex Melo também foi convidado no mesmo período para ilustrar o material de divulgação do 5º Festival Internacional de Música de Campina Grande (FIMUS) e para participar de uma bienal de arte, promovida por uma escola privada de Campina. “É lógico que se não houvesse participado da exposição no MAC, se não existisse um espaço que me estimulasse e apoiasse meu trabalho, dentro da minha cidade, esse avanço profissional não haveria ocorrido”, enfatiza.
O artesão campinense Hermógenes Ferreira de Araújo, integrante do Grupo Ecociclos que desenvolve peças artísticas, decorativas e utilitárias a partir dos resíduos sólidos, também teve um de seus trabalhos expostos no MAPP, com um presépio natalino em tamanho real do qual participou da execução, em 2013. Ele considera que esse enfoque no artesanato, o destaque conferido pelo MAPP, através de uma sala que expõe exclusivamente peças de artesãos, é de suma importância para a categoria. “Além de o museu estar localizado numa área muito estimada e bonita de Campina, e ter a assinatura de Oscar Niemeyer, o que por si é um conjunto positivo que já chama bastante à atenção e atrai muitos visitantes, ele homenageia todos que trabalham com isso, reafirmando nosso talento e valorizando o que fazemos” , destaca.
Para o premiado poeta pessoense, Sérgio de Castro Pinto, que lançou um de seus livros no Sarau do MAC, “O Cristal dos Verões”, investir na arte e na literatura é oportunizar a educação, a cidadania, posto que é na união de todas as vertentes da sensibilidade que a vida, a arte e o conhecimento se destacam. “Além disso, ter um local com a qualidade ofertada pelo MAC para receber as pessoas, em que se aproximam o público e os escritores, apresentando as novidades da poesia e da ficção paraibana, é de um valor inestimável, tendo em vista que poucos conhecem a produção paraibana atual”, assinalou.
MAC: um cotidiano dinâmico em arte e cultura
A necessidade de atividades dinâmicas de cunho educativo nos museus, que desenvolvam práticas regulares e contínuas e contem com profissionais especializados, tem-se tornado crescente, em âmbito mundial, nas últimas décadas, e no Brasil, mais particularmente nos últimos anos. Este é um reflexo da consciência de que um caminho para os museus enfrentarem os desafios da vida contemporânea consiste no estabelecimento de novas relações com o público, na perspectiva de construção de uma cidadania consciente. Tendo como base essa premissa, o MAC oferece uma programação diversificada e intensa, abrangendo desde exposições até outros eventos de caráter artístico e intelectual.
Saraus, lançamentos de livros, exposições, apresentações artísticas, abrangendo música e teatro, são algumas atividades ofertadas pelo Museu, ocasionando um expressivo número de visitantes, incluindo uma boa parcela de estudantes de escolas locais e de cidades circunvizinhas.
Desde que foi inaugurado, em 5 de julho de 2012, o MAC já recebeu 14.761 visitas. Nesse, ínterim foram 11 exposições temporárias, algumas da envergadura de “Nos Caminhos Afro – 170 fotografias de Pierre Fatumbi Verger”, com o apoio da fundação homônima e da UEPB, sob o patrocínio da Petrobrás e do Ministério da Cultura (Minc).
Além das exposições, outra constante no Museu são as visitas das escolas. Até agora, foram 196 instituições de ensino estaduais e municipais, afora as particulares. Palestras, lançamentos de filmes, workshops, seminários, aulas e oficinas também são frequentes, compondo cerca de 20 eventos ligados ao universo da arte, desde que o MAC abriu suas portas.
Os saraus também atraem ao MAC uma plateia cativa, com suas apresentações culturais, lançamento de livros e explanações dos autores. Começaram em 2012 e ao todo já foram 23 saraus, 21 lançamentos de livros e 22 apresentações artísticas. Mais de 1.600 pessoas estiveram presentes à iniciativa nesse período, além das escolas que usualmente trazem seus estudantes para participar dos eventos, inclusive declamando poemas.
Soma-se a isso, a Biblioteca Setorial do MAC “José Alves Sobrinho”, que recebeu apoio com doações de livros de diversas empresas, a exemplo do Instituto Tomie Ohtake, do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e da Petrobrás, bem como da própria UEPB e de pessoas da comunidade. A Biblioteca é interligada com o sistema informatizado da Biblioteca Central da UEPB, configurando-se como espaço de estudos para os alunos das escolas do entorno do MAC que não dispõem de condições propícias em casa para a realização de suas tarefas e pesquisas.
Para o diretor do MAC, Ângelo Rafael, o museu é, sim, um lugar de memória, mas também de espaço de pesquisa e de produção de conhecimento. “É templo por ser consagrado à arte. É ágora, porque é lugar de debate. O MAC é da cidade e o seu real donatário é o povo”, assinala. Ângelo destaca que o Museu, neste tempo que comporta as primeiras notícias de sua construção até hoje, só vem melhorando a sua imagem, indo além das divisas do Estado e da região Nordeste, com a chancela de uma UEPB que durante os últimos anos se consolidou numa instituição de credibilidade diante da academia brasileira.
Com a assinatura do arquiteto carioca Acácio Gil Borsoi e da pernambucana Janete Costa, o MAC tem uma arrojada estrutura predial com dois salões no primeiro andar para mostras; três salas para exposições temporárias no térreo; o espaço do Foyer e a Galeria do Mezanino, que são utilizados para exposições de acordo com tamanho, importância expográfica e curatorial, além de um auditório para 115 pessoas destinado a workshops, oficinas, seminários, palestras e eventos afins, justificando a ambiência museal como espaço vivo.
MAPP: preservando e difundindo as heranças da arte paraibana
O MAPP destina-se a preservar e difundir as heranças da nossa musicalidade, das artes manuais, da literatura de cordel, da xilogravura e da cantoria, suas origens e miscigenações, assegurando no presente e no futuro tudo que foi construído pelos paraibanos na construção de sua identidade. A parte museológica do Museu foi entregue à população campinense e paraibana no dia 10 de junho de 2014. Naquela oportunidade, três propostas curatoriais foram inauguradas: espaço da Música, com curadoria de Fernando Moura e supervisão técnica de Chico Pereira; espaço do Artesanato, com curadoria e museografia de Mário Costa e Roberta Borsói; e espaço do Cordel, com curadoria de Joseilda Diniz e supervisão técnica de Chico Pereira. Desde então, o MAPP tem alcançado destaque no contexto cultural, haja vista a grande frequência no Museu, que já chegou a 25.575 visitantes, com mais de 160 visitas de instituições de ensino.
Situado sobre uma praça, o Museu enfeita uma margem do Açude Velho, e teve sua arquitetura pensada de modo a não prejudicar a visão do espelho d’água. Composto por três edificações suspensas, a leveza do conjunto destaca sua plasticidade e funciona como uma escultura que pode ser contemplada de todo o perímetro do Açude. Os blocos cilíndricos envidraçados são ligados por uma plataforma e das diversas partes da edificação podem ser admirados tanto o maior cartão postal da cidade quanto seu entorno, o que compõe uma atração a mais para o visitante.
Porém, de acordo com o supervisor técnico do MAPP, José Barreto de Freitas, mais que espaço privilegiado da estética, o Museu já se configura como um elemento de convergência das metas da UEPB (o ensino, a pesquisa e a extensão), através do envolvimento de professores, estudantes e da comunidade, criando, valorizando e salvaguardando a cultura paraibana, presente em exposições e eventos variados, que congregam práticas e experiências.
O MAPP conta com acervo inicial avaliado em R$ 50 mil. A estrutura dedicada à música atualmente presta uma homenagem a Jackson do Pandeiro, com fotos, objetos e materiais audiovisuais. No espaço também há painéis com referências a outros importantes músicos paraibanos, a exemplo de Sivuca e Marinês, além do registro de mais de 300 nomes de artistas.
Para compor o acervo musical do MAPP, foram catalogadas ainda 5 mil músicas, das quais 420 apenas de Jackson do Pandeiro, disponíveis para audição do público por meio de computadores e fones de ouvido. O MAPP também possui um espaço multimídia, reservado à audição de toda a obra disponível e também para a visualização de imagens relacionadas aos artistas. Assim, áudios, vídeos, imagens, objetos e documentos relevantes desses homens e mulheres que compõem com maestria a tradição da música paraibana encontrarão no MAPP a devida guarida, ordenamento e zelo, permitindo a continuada preservação do vigoroso patrimônio musical local, ancorado na partilha do conhecimento, como impulso aos avanços e transformações.
Já os objetos expostos na área de artesanato representam uma parte do vasto universo dessa criatividade, entre elas a arte das cerâmicas, dos rendilhados, das madeiras, dos teares e cordoaria, do metal da funilaria e da forja, do couro e sua peleteria, da vegetação com suas fibras, das tinturas e resinas, de tudo que possa ter servido no passado à sobrevivência e ao conforto do povo sertanejo, do brejeiro e do litorâneo, seus festejos, suas crenças, brincadeiras, adornos, enfim, a tradição da arte manual que se incorpora ao mundo atual, não apenas como mercadoria, mas como legítima herança da cultura paraibana. Na imensa gama de artigos à disposição podem ser vistos primorosos trabalhos de artistas como Chico Ferreira, Nenê Cavalcanti, Maria dos Mares e Tota.
Na sala de cordel e xilogravura, o MAPP convida os visitantes a um passeio histórico e cultural em torno da cultura nordestina, berço da civilização ibérica no Brasil, com suas influências mouras e judaicas. Através de uma seleção de folhas soltas, folhetos de cordel, almanaques e xilogravuras, presentes no Acervo Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida da UEPB (Boraa), é possível acompanhar as narrativas poéticas de fatos e histórias da vida cotidiana e do imaginário do povo do Nordeste. Figurões desses gêneros artísticos, a exemplo de Romano do Teixeira, Pinto do Monteiro, José Alves Sobrinho, Zaira Dantas, Oliveira de Panelas, Manoel Monteiro, João Martins de Athayde e Josafá de Orós, estão ao alcance das mãos.
Serviço
O MAC está localizado à Rua João Lélis, 581, bairro do Catolé, em Campina Grande, e as visitas ocorrem de segunda à sexta-feira, das 13h30 às 19h. Outras informações podem ser adquiridas através do telefone (83) 3337-3637.
O MAPP funciona terça a sexta-feira, das 9h às 19h; aos sábados e domingos, das 14h às 18h. Agendamento de visitas de instituições de ensino e demais informações podem ser adquiridas pelo telefone (83) 3310-9738.
Ascom UEPB